Abismos das flores

Eram três horas da madrugada, eu já havia me revirado na cama em todas as posições possíveis.  O sono insistia em não vim. Eu continuava sentindo aquela tristeza, aquela agonia, as moscas não paravam, não dormiam, continuavam lá. Foi então que que resolvi sentar e meditar, pensar ou melhor não pensar em nada e tentar melhorar e quem sabe só assim iria conseguir dormir.  Tentei, relaxei, visualizei um lindo campo com flores, mas logo depois despertei e não mais consegui me concentrar.  A agonia me corroia, era algo terrivel e dificil de explicar.  As lágrimas caiam sem explicação, sem motivo, não sabia mais o que fazer. Eu era feliz, mas por algum motivo, parecia que por não merecer vinham sempre essas vozes na minha cabeça dizendo para me matar.  Eu até mesmo havia tentando algumas vezes, remedio, greve de fome.  No final uma imensa falta de coragem me tomava.  Eu não queria que minha familia acordasse e me encontrasse morto em cima de uma cama.  Deseja mil vezes que um simples e fatal acidente acontecesse, mas não acontecia.  As coisas, de fato, só acontecem no seu devido tempo.
Abri a porta de minha casa, já estava morando sozinho nesta noite de insônia,  e resolvi caminhar até a lagoa no final da rua.  Parado no escuro tudo que eu conseguia era chorar, as lágrimas saltavam sem controle, eu não via mais nada, tudo estava turvo. Cai no chão e apaguei. Quando finalmente pude ver algo estava caindo, caindo sem parar. A medida em que eu caia via o cenário mudar.  Pedras, pedras, gramas nas pedras e logo flores, flores de todas as cores eu via, azul, roxa, as minhas preferidas, via também vermelho, laranja, cores fortes, cores e mais cores, a medida que eu caia eu só via flores. Aos poucos as flores coloridas foram-se tornando de cores menos vivas, cinza, cinza, e cinza e logo o negro.  Quando percebi que havia então parado de cair. Ergui meus olhos, levantei do chão e vi uma multidão chorando sem parar. Ouvia gritos, ouvia pedidos de socorro, ouvia vocês e mais vocês que falavam sem parar.  Um homem velhinho de olhos esbugalhados pele suja, roupas rasgadas e sorriso incompleto me ofereceu a mão.  Levantei do chão e com ele me pus a caminhar.  Ele não falava nada, apenas apontava e caminhava, aqui e ali apontava algo novo, via fogo, via gente se arrastando, via tristeza em todo lugar.  Após um longo caminhar me defrontei com uma mulher acorrentada que se punha a chorar.  Ela pedia para que ajudasse,  que eu a soltasse daquele lugar.  Sem saber como e o que fazer tudo que pude por ela fazer foi rezar. Uma luz surgiu então, um flor no chão brotou, as correntes que ela prendiam tornaram flor, um a após outra as flores brotavam no chão transformando tudo que era escuridão em uma imensidão color.  As pessoas que sofriam melhoravam suas feições, a tristeza sorrisos se tornavam, os gritos de dor, brados de gratidão. O senhor, o senhor que nada falou sumiu em uma veste branca e uma luz imensa a lhe cercar.  Quando olhei para mulher não a vi.  Vi apenas uma flor no seu lugar, um pequeno bilhete que dizia:

"tudo é possível se você acreditar.  Acredite no amor, e o amor vai poder tudo transformar."

Acordei as cinco horas da manhã cercados de flores por todo lugar. Voltei para casa, não havia mais solidão, nem angustia ou tristeza, apenas a certeza que um dia eu iria chegar lá.  Quando fui deitar vi um sorriso brilhando dizendo: "te amo, vem se deitar".

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